Lobisomem (2024): Horror, Herança e a Maldição do Passado
Ao longo das décadas, os monstros da Universal passaram por inúmeras reinterpretações, cada uma refletindo os medos e ansiedades de sua época. Lobisomem (2024), sob a direção de Leigh Whannell, é mais um capítulo dessa linhagem, mas, ao invés de simplesmente reviver um ícone do horror, o filme busca transformar a licantropia em um comentário sobre herança, violência e a inevitabilidade da própria natureza. O resultado é uma obra visualmente impactante, mas que, em sua ânsia de ser profunda, por vezes esquece de ser instigante.
A história segue Burke (Christopher Abbott), um homem que retorna à casa de sua infância após a morte do pai. Esse retorno não é apenas físico, mas também emocional – um confronto com a herança deixada por gerações de homens que vieram antes dele. Casado com Charlotte (Julia Garner) e preocupado com a imagem que sua filha Ginger (Matilda Firth) tem dele, Burke tenta evitar repetir os erros do passado. Mas a maldição do lobisomem não dá escolhas: ele não se torna um monstro por decisão própria, e sim porque sua natureza exige isso.
Whannell já provou seu talento para revisitar clássicos com um olhar moderno – O Homem Invisível (2020) fez isso com uma abordagem minimalista e sufocante. Aqui, ele segue um caminho semelhante, apostando menos no espetáculo e mais na psicologia do personagem. O terror corporal está presente, mas o verdadeiro horror vem da ideia de que Burke pode estar destinado a se tornar o que sempre temeu.
Grande parte do filme se passa em ambientes fechados, uma escolha que, apesar de coerente com a proposta, limita seu impacto. O primeiro ato, com planos abertos das florestas do Oregon e a sensação de vulnerabilidade na vastidão da natureza, estabelece um tom promissor. No entanto, quando a história se retrai para dentro da casa da família, o ritmo desacelera e as metáforas tornam-se excessivamente explícitas.
O roteiro, assinado por Whannell e Corbett Tuck, não se contenta em sugerir seus temas – ele os escancara. Frases como “O medo de machucar quem amamos pode nos transformar naquilo que mais odiamos” surgem de maneira didática, enfraquecendo o impacto das imagens e das atuações. Há uma sensação de que o filme não confia na capacidade do público de interpretar seus próprios significados, o que acaba tornando algumas cenas mais mecânicas do que orgânicas.
Isso não significa que Lobisomem careça de momentos memoráveis. Quando Whannell se entrega ao horror puro, o filme encontra sua verdadeira força. A transformação de Burke é dolorosa, visceral, capturada em detalhes grotescos que evocam o horror corporal de clássicos como A Mosca (1986). Nos raros momentos em que a criatura é libertada para caçar, há um senso de urgência e brutalidade que eleva o terror a outro nível.
O desfecho é agridoce, tão inevitável quanto a lua cheia no céu. Lobisomem (2024) não trata apenas da luta entre o homem e a fera, mas da aceitação de que, em certos aspectos, essa luta já está perdida antes mesmo de começar.
Apesar de seus tropeços narrativos, o filme é uma adição interessante ao cânone dos monstros clássicos, uma tentativa de modernizar a lenda sem perder sua essência trágica. Poderia ser mais sutil? Sem dúvida. Mas, quando Whannell permite que a fera assuma o controle, o filme mostra exatamente do que um bom terror deve ser feito.
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